A DEFICIÊNCIA AO LONGO DA HISTÓRIA

quinta-feira, 20 de maio de 2010



O entendimento da trajetória do portador de necessidades especiais ao decorrer da história é indispensável para compreendermos as suas possibilidades futuras. Para que saibamos para onde vamos é necessário saber de onde partimos.
A história, com foco na deficiência, pode ser dividida em 03 (três) períodos, sendo eles:
Período místico-oculto (Antiguidade/Idade Média); biológico-ingênuo (Séc. XV/Idade Moderna); período científico (Idade Contemporânea).
No período místico-oculto a sociedade era dividida através da divisão econômica. Como na época o que predominava era a agricultura e o artesanato, quem possuía terras eram considerado pessoas (nobres), quem trabalhava para estes “senhores” eram considerados coisas. Partindo desta idéia, o deficiente não representava nada para a sociedade, pois ele não trabalhava, e então inexistia como problema social.
Devido à visão teocêntrica adotada neste período, tudo gira em torno de Deus. A religião impunha aos homens o conceito de perfeição e, uma vez sendo imperfeito, o deficiente não poderia ser uma obra divina e assim, deveriam e eram segregados da sociedade.
Não era permitido o direito de sucessão e herança para portadores de qualquer necessidade.
A importância da eugenia era tão forte que tanto Grécia, quanto Esparta, e outros países e regiões, era necessário o abandono e a eliminação das crianças disformes, privando assim a sociedade do convívio com os “anormais”.
No Império Romano, “o Código das Doze Tábuas,” determinava que os pais matassem os seus filhos “defeituosos” no momento do parto, para que a imperfeição fosse banida da sociedade.
Com o início do Renascimento acontece um período de valorização humana. Ocorre então, uma forte mudança social. Uma nova classe sobe ao poder. O comércio ganha força e nasce uma nova classe social, a burguesia. Surge nesta transição uma nova mentalidade, e um movimento chamado Iluminismo. Este novo pensamento provoca a queda da monarquia, fortalecendo o modernismo na Idade Média.
Com o Cristianismo o homem era visto como criação e manifestação de Deus, não mais sendo permitido o extermínio. Desta forma, inicia-se um período de ambiguidade caridade-castigo, onde a Igreja tratava os deficientes como dignos de caridade, e em contrapartida, não conseguindo aceitar a existência desta imperfeição, aplicavam castigos e torturas capazes de leva-los á morte.
Não havia nenhuma atividade aos portadores de deficiência, restava apenas o posto de “bobos” para divertir os senhores e seus hóspedes.
Esta nova mentalidade é o que criará as instituições, para que aqueles que não fossem mortos tivessem abrigo para manter-se segregados da sociedade, não oferecendo nenhum tipo de proposta educacional, pois eram tidos por incapazes.
Durante a mudança do renascimento para o Iluminismo surgem as primeiras pesquisas sobre possíveis causas e tratamentos da deficiência.
Neste contexto nasce o período biológico-ingênuo, que foi marcado pelo desenvolvimento científico e comercial. O homem passa a se afastar da idéia de divino, favorecendo a visão dos deficientes como algo natural, embora isso não tenha melhorado o seu convívio social.
Estudiosos como Paracelmo e Cardano alertam sobre a necessidade de tratamento especializado, e como esta preocupação não era voltada ao convívio social, nasce os primeiros hospitais psiquiátricos.
Estes não mantiveram características de tratamento, mas acabaram tornando-se confinamento aos que fossem inconvenientes à sociedade.
Como a atividade econômica era muito importante e a mão de obra indispensável, os deficientes continuaram sem um papel de importância social, então eram segregados da sociedade evitando transtornos aos “produtores”.
Foi neste período em que surge a teoria evolucionista de Darwin, ajudando a entender porque uns morriam e outros viviam (seleção de espécies).
Também foi possível contar com grandes nomes, como Pinel, Down, Froebel na classificação de “doenças” e Freud, com a teoria da psicanálise como técnica terapêutica, possibilitando a compreensão e educação da criança deficiente.
Após a Revolução Francesa, em um período de políticas públicas educacionais, encaixa-se o período científico.
No início do séc. XX o Brasil ainda atendia os portadores de deficiência em instituições com influências médico-pedagógicas sendo afastadas da sociedade. A defesa da cidadania e do direito à educação de pessoas portadoras de deficiência foram concretizadas apenas em meados do séc. XX.
Neste período, a concepção de deficiência não é só atrelada à aspectos biológicos, mas sim históricos e culturais. É percebido que deficientes que tinham acesso á educação sistematizada eram capazes de aprender. Esta descoberta incentiva novos estudos, e então nascem diversas diretrizes e métodos educacionais que são expandidos para os Eua, Canadá e, mais tarde, à diversos outros países, incluindo o Brasil.
A visão sobre os deficientes começou a mudar logo após as duas guerras, quando foi necessário descobrir o que fazer com grande parte da sociedade e soldados que foram mutilados, e precisavam ser integrados novamente ao convívio social. Neste instante inicia-se uma visão para inclusão.
Nesta nova mentalidade o deficiente é visto como alguém que precisa de ajuda, e quem o ajuda é tido como herói, por seus atos humanitários.
A deficiência é vista como condição humana e passa a ser defendida pela Constituição. Mas é importante lembrar que este espaço só foi conquistado por que pessoas que possuíam limitações, foram através de seus conhecimentos e necessidades lutar, criar e conquistar o que precisavam.
Entre estes estão Braille, Valentin Haüy, e Roch Ambroise Sigard que cria a linguagem dos sinais, que teve muita importância para diversos professores, entre os quais o português-francês Jacob Pereira repercutiu no Brasil em meados do séc. XX.

2 comentários:

Unknown disse...

adorei, visitei,li, aprendi e simplesmente amei seus textos.obrigada pela contribuição.

Unknown disse...

Com o início das ciências junto ao Iluminismo, quais procedimentos os deficientes eram submetidos? E onde eles eram instalados?

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